sábado, 26 de novembro de 2011

Superando a dor...



Sabia que era difícil, mas esperei já estar minimamente mentalizada. Quando soube fiquei incrédula, porque não esperava que depois de teres passado tudo aquilo que conseguiste passar, fosses embora assim, de um momento para o outro, sem eu sequer ter tempo para me despedir. Acreditei sempre que serias capaz de enfrentar isto e que ainda passaríamos pelo menos mais um Natal juntas, afinal de contas, e para minha surpresa, foste antes, assim, tão de repente, tão subitamente. Foi um choque, não sei descrever o que senti, talvez não hajam palavras suficientes para o fazer, mas foi algo forte, como se de repente um pouco de mim tivesse morrido também. Lembro-me de quando ia a tua casa e te pedia bolachas, de quando me dizias que estava gordinha e quando vinhas lá da Ribeira para passar o Natal ou alguma festa connosco. Apesar de já estares cá há algum tempo, acho que nunca tinha percebido tão bem o quanto gostava de ti como quando soube que tinhas ido para o hospital. Fiquei triste, preocupada, com medo que te fosses abaixo e que eu nem tivesse oportunidade de te dizer que gostava muito de ti. Quando choravas por me ver, tentava desviar o assunto, era incómodo ver-te chorar, porque não sabia como reagir. Da primeira vez que te fui ver ao hospital, foi difícil ver-te ligada às máquinas, com problemas respiratórios, cardíacos, com vontade de morrer, desanimada. Tentei convencer-me de que eras forte o suficiente para ultrapassar tudo aquilo, e realmente foste, aquilo e tudo o que veio depois. O que mais me custou foi a minha visita antes de seres operada a segunda vez, lembro-me que te disse que gostava muito de ti e tu olhas-te para mim, abriste muito os olhos, e nada disseste, aquele bipap impedia-te de falar. De mãos dadas, tentei transmitir-te calma e força, entre as festinhas nos braços e as palavras soltas que ia trocando contigo, além dos olhares ternos que soltava-mos uma à outra. Acho que naquele momento o que mais me apetecia era desatar a chorar, sabia todos os riscos daquela operação e desconfiava que aquele momento pudesse ser único, fiz um esforço enorme para não desanimar e para manter confiante o meu pensamento, ao contrário do que todas as pessoas que estavam naquele quarto julgavam, consegui pôr de parte as lágrimas, enchi-me de força, dei-te um beijo e vim embora. A tristeza e o desânimo do meu coração deixaram-me cansada, e quando cheguei a casa, vesti o pijama e fui para a cama, aí soltei algumas lágrimas, pensei em alguns momentos e, tal como me pediste, rezei por ti. Felizmente sobreviveste a mais este percalço que a vida te colocou, confesso que foste tão forte como eu nunca imaginei, e isso comoveu-me, muito. Passadas todas estas barreiras e vendo-te progredir de dia para dia, quando te visitava no hospital, nada me faria prever que assim, de um momento para o outro ficasse sem ti…
A última vez que me acenaste e disseste adeus, ficará gravada na minha memória e no meu coração, ainda que prefira relembrar outras memórias mais alegres que tenho de ti.
Nesta altura é difícil digerir toda esta avalanche de sentimentos que me fazem pensar em tantos momentos e ao mesmo tempo numa só pessoa, em TI! Tenho saudades de ti, ainda agora foste e já tenho tantas saudades, a ideia de nunca mais te poder ver a sorrir, de nunca mais te ouvir falar, aterroriza-me e assusta-me.
Nunca tinha lidado com a morte assim tão de perto, nunca estamos preparados para esta dor, para este sentimento de perca, de saudade, de tristeza e exaustão.
Acredito que aí do céu me consegues ouvir e que estás em boa companhia, zela por mim e fica perto, visita-me nos meus sonhos, não percas o contacto comigo, dá-me sinais, eu sei que vais estar aí, ainda que fisicamente não me possas abraçar, fica junto a mim.
Resta-me relembrar-te e continuar a amar-te no meu íntimo, com a certeza de que ficarás guardada num cantinho muito especial do meu coração e na minha memória, para sempre.
Um dia, quando Deus quiser, vou ter contigo, e depois estamos juntas outra vez, para sempre, até lá, vou trocando palavras contigo, porque acredito que me ouves, que me vês, que estás aí, e que vais olhar por mim, até quando chegar a hora do nosso reencontro.
Não contesto a decisão Dele quando te levou, sei que estás bem aí, ainda que eu aqui esteja mal, mas hei-de ficar melhor. Resta-me mandar-te um beijinho com muito carinho e amor e desejar que descanses em paz.
Gosto muito de ti, sempre!
Se eu acreditasse que a vida acaba quando o corpo morre, diria adeus, mas como acho que estás aqui comigo e que ainda nos vamos voltar a encontrar, digo apenas até… quando Deus quiser!
Sei que não te vais esquecer de mim, nem eu de ti… e não te esqueças, visita-me em sonhos, por favor, quero-te sentir mais de perto agora que já não te posso ver nem tocar.
Podes ter morrido em Terra, mas em mim, sinto-te viva no meu coração. As minhas lágrimas são apenas tristeza por já não te ter aqui fisicamente, junto a mim, e de já não poder falar contigo… mas tenho de aceitar que todos morremos. Já sofreste muito, mas agora… descansa!
Um grande beijinho, de cá de baixo aí para cima, sente-te beijada, porque continuarei a amar-te!





2 comentários:

  1. Texto muito emocionante e forte.
    Boa Sorte para superares esta fase da tua vida.
    Parabéns e continua assim.

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  2. Obrigada "Anónimo",
    nestas alturas difíceis, temos de arranjar forças e motivações, é complicado, mas tem de ser, porque a vida tem de continuar... Para mim, uma das melhores terapias é também a escrita, limitei-me a deixar o meu coração "escrever", ele esteve presente nesta "carta" do principio ao fim, não faria sentido se assim não fosse. Daí o texto ser tão emotivo e tão forte.
    Obrigada pelo comentário e força,
    Um beijinho,
    Ana Filipa =)

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